quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Diário da terra. I


No inicio era uma parada sobre sombras de um pé de Juazeiro, linha de caminhoneiroos que ainda seguiriam a cidade do Crato, bem na encruzilhada de rotas comerciais sertanejas entre Ceará, Piauí, Paraíba e Pernambuco. Para completar o roteiro, Taboleiro grande era à beira da Chapada do Araripe.
E tinha uma capelinha, onde costumava rezar missa um novo padre baixinho, de intensos olhos azuis e desde novo com esta postura meio de lado, a cabeça descaída de leve sobre o ombro esquerdo.Cícero Romão Batista o profeta em sua própria terra.
E a partir das gentes que cada vez mais se chegavam por ali, vindas de todos os cantos, a partir do final do século 19, atraídas pela mística do Padre Ciço, nasceu Juazeiro do Norte, o município mais populoso do interior do Ceará e o melhor ponto de partida para se conhecer o Cariri, a região sul do estado.
Paisagem de encher os olhos para qualquer visitante, o Cariri compartilha a primeira floresta nacional do Brasil, a do Araripe, instituída por decreto em 1946.
O Ibama local faz um trabalho de conscientização com a comunidade do entorno, que se beneficia dos produtos naturais deste bioma de transição entre caatinga, floresta úmida e cerrado, um tesouro que ocupa 38.262 hectares. Mas para o visitante interessado na cultura popular, as riquezas do Cariri podem ser ainda maiores.
Em épocsa de romarias, a cidade de Juazeiro do Norte se transforma. Um mar de gente se move pelas ruas convulsionadas e estreitas, de São Pedro a São Paulo, Santa Luzia, da Glória, da Conceição, e de Todos os Santos, a praça Padre Cícero, a igreja do Socorro, a matriz de Nossa Senhora das Dores.
Na pedra do Horto, o ponto mais alto da cidade, mulheres e homens sobem a escadaria e rodeiam a estátua branca do Padre Cícero, a batina de cal marcada pelos nomes dos visitantes, pelos pedidos e pelos agradecimentos às graças alcançadas, expressados em fitas amarradas na grade que cerca o monumento. E são tantas que o vento, ao passar por elas, cria uma estranha música que ora lembra a chuva caindo.
Daqui de cima se vê o emaranhado urbano que não tem mais para onde crescer, mas que mesmo assim se alonga emvárias recentes construções, altos edifícios, condomínios fechados e novos subúr-bios que logo mais vão se emendando ao Crato, divididos praticamente por uma gigante plantação de cana. Quando a tarde cai e a temperatura esfria, uma teia elétrica desenha o contorno das duas cidades, e o Luzeiro do Sertão "alumia" o deserto que ao seu redor prevalece. O Horto fica a seis quilômetros do centro da cidade, em estrada asfaltada ou em pedra tosca que cruz o proprio bairro do "Horto" que tem em sua maioria moradores de todo Brasil. Mesmo fora das temporadas – nas romarias da padroeira, Nossa Senhora das Dores, ou nas de Nossa Senhora das Candeias, de Todos os Santos, de Finados, no aniversário do Padre Cícero e também na data de sua morte –> Juazeiro recebe mais de 2 milhões de visitantes.
Há acomodações para todos os bolsos, simples ranchos para os que chegam nos caminhões pau-de-arara, hotéis confortáveis no centro e os luxuosos hoteis e pousadas nas encostas mais distantes no bairro da Lagoa Seca.
Aqui também hoje chegam as revoluções políticas inspiradas no Cheguevara, onde um novo governo aplica a reforma administrativa e tenta mudar a realidade do povo que aqui reside. É bem fácil enxergar nos olhos do prefeito num discurso sobre seus desejos para Juazeiro tornam-se sonhos na vida dele, pude perceber que desta vez, Juazeiro do Norte, elegeu um de seus filhos para cuidar do que é seu. E em meio de tanta evolução de Juazeiro, que em menos de 100 anos construiu uma terra de todos as crenças e louvores. Uma cidade que hoje é possível ver de tudo, inacreditavelmente, de tudo.
E por fim, uma frase que escutei ao passar pela rua Padre Cícero nos batentes da Basílica das Dores: "seu dotor puramor de Deus, de uma esmolinha a um romeiro que vem de longe, dos emaranhado da Alagoas, agradicer a bença arcançada pelo meu padim."
Thiago Aguiar

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