terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Padre Cícero reabilitado. (Juazeiro do Norte palco da fé Brasileira)

Juazeiro se despede de Padre Cícero. Uma multidão levou o caixão do "Padim" até a capela, onde foi enterrado.

Depois de São Paulo e Juazeiro, o jornalista Lira Neto lança "Padre Cícero - Poder, Fé e Guerra no Sertão", hoje, no Centro Cultural Dragão do MarO jornalista cearense Lira Neto lança, hoje, às 19 horas, no Espaço Mix do Centro Dragão do Mar, o livro "Padre Cícero - Poder, Fé e Guerra no Sertão". Lira, atualmente morando em São Paulo, vem explorando um filão dos mais ricos da atual quadra do mercado editorial brasileiro: a biografia. Já escreveu obras que ficaram meses na lista dos mais vendidos. Ainda em Fortaleza, se debruçou sobre a vida de Rodolfo Teófilo. Em São Paulo, resolveu largar as redações para dedicar-se a escrever histórias de vida em tempo integral. Seguiu com sucesso caminhos abertos por outros biógrafos-jornalistas: Fernando Morais (seu amigo), Ruy Castro, Daniel Pizza, e Jorge Caldeira. A primeira biografia de maior sucesso de Lira foi a do ex-presidente Castelo Branco ("Castello, a Marcha para a Ditadura"). Depois, foi a vez do escritor cearense José de Alencar ("O Inimigo do Rei") e, mais recentemente, a de Maysa. Com a biografia de José de Alencar, Lira ganhou o disputado prêmio Jabuti de Literatura Brasileira. Agora, o jornalista cearense mergulha no universo de um dos personagens mais complexos do Nordeste: Padre Cícero Romão Batista.O livro já foi lançado em São Paulo, Recife e Juazeiro do Norte. No lançamento em São Paulo os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo concederam generosos espaços para o livro sobre Padre Cícero. A crítica da "Folha", Sylvia Colombo referiu-se à obra como uma "biografia isenta, aprofundada e de narrativa envolvente". No "Estadão", o jornalista J. B. Medeiros classificou o livro de Lira como uma obra de referência, destacando, principalmente, a fluidez da narrativa.Lira Neto dedicou mais de dois anos para escrever "Padre Cícero - Poder, Fé e Guerra no Sertão".O autor, como bom jornalista, teve acesso a uma ampla documentação existente sobre Padre Cícero. Documentos que dormiam no arquivo secreto do Vaticano. Ele não cita suas fontes. Diz também que nunca foi a Roma. E sim o Vaticano veio até ele. Os documentos chegaram às suas mãos graças às fontes que cultivou durante a pesquisa. Ele contou com a ajuda da Cúria do Crato. Teve acesso a mais de 900 documentos. Contou também com a ajuda preciosa de dois pesquisadores: Renato Casimiro - a quem dedica o livro - e a Daniel Walker, donos de um rico acervo sobre Padre Cícero, cedido à Universidade Federal do Ceará."O livro é eminentemente jornalístico, de pesquisa e muita investigação". Aliás, foi como jornalista investigativo que ele chegou aos documentos secretos do Vaticanos. "Não estive em Roma. O Vaticano é que veio a mim", brinca. "A minha trajetória como jornalista e autor de outras biografias credenciou-me a ter acesso a essa documentação. Pesquisei em todos os papéis do processo movido pelo Santo Ofício contra Padre Cícero. Além disso, foram de enorme valor as novecentas cartas trocadas entre os principais protagonistas da história: Padre Cícero, a cúpula do clero no Brasil e em Roma; autoridades políticas do Ceará e do Palácio do Catete".Muito já se escreveu sobre Padre Cícero. Livros que desconstruíram totalmente sua trajetória. A maioria, no entanto, biografias positivas, espécie de hagiografias. Não é o caso de Lira Neto. Pelo contrário. Como ele mesmo frisou, a obra é essencialmente jornalística. Diz que não existe juízo de valor. O leitor, logicamente, tirará suas conclusões. Também está longe de defender qualquer tese, principalmente a da defesa ou da reabilitação de Padre Cícero Romão Batista. Defesa, por sinal, hoje defendida pela Igreja Católica, talvez preocupada com o avanço das religiões neopentecostais no Brasil. Tanto que o livro começa com o então Joseph Ratizinger (hoje o Papa Bento XVI) e Dom Panico, em busca de documentação para a reabilitação de Cícero. Depois, desse revelador prólogo o livro se desenvolve em duas partes: "A Cruz e a Espada", onde é narrada a história de Cícero com toda a complexidade de sua trajetória. E, no final, a ação volta a 2009, onde Lira descreve o processo civilizatório de Juazeiro a partir da profunda religiosidade fundada por Cícero.Jamais passou pela cabeça de Lira Neto escrever um tratado acadêmico. A obra democratiza o estado da arte das pesquisas acadêmicas e vai além ao revelar com base em fontes primárias um novo olhar a respeito de Padre Cícero. "O que diferencia meu trabalho da academia é a linguagem, pois sempre estou preocupado com a recepção da obra", assinala.Ele faz um paralelo com sua biografia de José de Alencar. Afirma que "O Inimigo do Rei" atualmente é estudado em cursos de mestrados e doutorados de literatura em universidades de todo País. E, ao mesmo tempo, é adotado em escolas de ensino fundamental. "Há hoje um reconhecimento dentro dos próprios meios acadêmicos que biografias escritas por jornalistas fizeram avançar o conhecimento histórico do País. Com uma vantagem adicional de serem textos fluentes e saborosos, mesmo para o leitor não especializado", assinala.Muitos historiadores europeus e americanos há muito se dedicam ao gênero. No Brasil, apenas agora, a academia volta-se para história de vida dentro de determinados contextos históricos. José Murilo de Carvalho, por exemplo, escreveu a biografia de Pedro II. E a historiadora Mary Del Priori, a vida da Condessa de Barral.Para Lira Neto, toda narrativa histórica produzida por jornalista ou historiadores é essencialmente uma construção. Construção em que os valores e o repertório do autor se fazem presente. "Mas nunca a imaginação pode sobrepujar o rigor da investigação e a fidelidade à documentação consultada".Lira Neto se diz agnóstico e que não é um homem religioso. E jamais escreveria um livro para defender ou condenar Padre Cícero. "Analisei o homem dentro do seu cenário e contexto histórico".Naquela quadra histórica, estava sendo posta em prática um projeto de reformulação da Igreja brasileira. O objetivo era adequá-la às diretrizes e à rigidez hierarquizada do Vaticano. "Padre Cicero e o catolicismo popular eram considerados desvios da norma, portanto, havia uma incomunicabilidade entre os dois mundos", assinala. Por isso, a expulsão de Padre Cícero da Igreja Católica.Depois de Fortaleza, Lira Neto volta a São Paulo e, em seguida, lançará o livro nas demais capitais do Nordeste. Até agora nenhum religioso se pronunciou de forma direta sobre seu livro. Lembra o autor ainda que "Padre Cícero - Poder, Fé e Guerra no Sertão" foi bem recebido no Sul do País. Na primeira semana, após o lançamento em São Paulo, a biografia do religioso figurou em primeiro lugar entre os mais vendidos na rede de Livrarias Cultura. "Eu acho que é uma obra de interesse geral. Padre Cícero não é um personagem cearense, mas universal. Talvez o mais extraordinário personagem já produzido pela história brasileira".O bispo Dom Panico esteve no lançamento do livro de Lira Neto em São Paulo e, mais recentemente, em Juazeiro. Inclusive, enviou um exemplar para o Papa Bento XVI. Confessou a Lira Neto que o seu coração ficou intranquilo quando soube que o jornalista estava escrevendo uma biografia sobre Padre Cícero. "Mas quando comecei a ler o livro, apesar de alguns trechos que podem parecer desabonadores ao biografado, é inegável que a obra de Lira Neto buscou a verdade", confessou D. Panico ao escritor e jornalista cearense.

Fonte:DN.
Thiago Aguiar

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