terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Choro, reza e vibração em nome do filho



Tarde do último domingo. Rio de Janeiro. ``Seu`` Antônio Leite e ``Dona`` Francisca Simões rumam para seus templos. Ele, radinho no ouvido, camisa do Flamengo como veste, segue para o Maracanã. Ela, terço na mão, imagem de Padre Cícero consigo, vai para a Igreja de São Paulo, em Copacabana. Com a capital fluminense tomada pelo vermelho e negro de milhões, só tinham olhos - e corações & para um. Ronaldinho. Não o Gaúcho ou mesmo o Fenômeno. Cada um à sua maneira, os pais de Ronaldo Simões Angelim, o Ronaldinho para quem o colocou no mundo, torceram, sofreram, rezaram e, por fim, vibraram pelo filho no dia em que o País parou. O furador de poços na infância atingia o auge da carreira de jogador e torcedor do Flamengo. Com uma cabeçada certeira, aos 24 minutos da segunda etapa, marcou o gol da virada e do título brasileiro de sua equipe de coração, no 2 a 1 sobre o Grêmio. Era o fim de 17 anos de fila rubro-negra. Seu Antônio ficou atrás da trave que agora virou cúmplice da história de Angelim. Viu, do alto, o lance que imortalizou seu filho. E se manteve surpreendentemente alheio à explosão ao redor. ``Eu fiquei quieto, nem sei porquê. O povo todo vibrando e eu ali, parado, vendo a festa comigo mesmo, sabe?``, conta, sem esconder a felicidade. Porém, o disfarce do pai do herói foi revelado. ``Aí um colega meu do Ceará que estava comigo disse que eu era o pai (de Angelim). Pronto, nem consegui mais ver o jogo porque todo mundo vinha falar comigo!``, completa, agoniado. O sofrimento de Dona Francisca foi de outra maneira. Ela engatou duas missas em sequência na Igreja de São Paulo, em Copacabana, perto da casa do filho. ``Eu não assisto. Fico nervosa. Fui pra missa para não escutar a baderna``, conta. No repertório, todas as rezas indefectíveis a uma reconhecida romeira, além de promessas para três religiosos. Ao fim do jogo, teve uma visão. ``Na hora em que eu saí da Igreja eu o vi dando entrevista (pela televisão) na churrascaria. Aí eu vi que ele tinha feito o gol. Fiquei ali assistindo um pouquinho``, lembra, revelando quase ter sua identidade reconhecida por um torcedor. ``Teve um rapaz que desconfiou, me achou parecida com ele. Mas o porteiro (do prédio de Angelim) me viu e abriu logo a porta pra eu entrar``, emenda. A conquista veio e a ``dívida`` será paga agora em três parcelas. Dona Francisca assistirá de joelhos às missas em homenagem a São Francisco (amanhã), Santo Expedito (domingo) e Padre Cícero (dia 20). ``Vale muito o esforço. Agradeço muito a Deus por tudo``. Carreata Familiares e torcedores do Flamengo em Juazeiro do Norte planejam uma recepção festiva para Angelim. O jogador chega amanhã no Cariri para passar as férias e deve ser recebido com carreata pelas principais ruas do município. E-MAIS > Os pais de Angelim voltaram ontem para Juazeiro. Os dois viajaram a pedido do filho, que os considera pés-quentes. ``Em 2008 eu vi 11 jogos e o Flamengo não perdeu nenhum``, diz Antônio. > A carreata em homenagem a Angelim depende da hora de chegada do atleta. Se desembarcar às 14h, a carreata será ainda amanhã. Se vier apenas na madrugada a festa fica para o sábado. > A família já providenciou camisas com a foto de Angelim para comemorar mais um título. > Seu Airton torcia pelo Vasco antes da chegada de Ronaldo à Gávea, em 2001. Agora, virou a casaca. ``Não tem como não torcer pelo filho da gente``. >

Angelim já venceu cinco títulos com a camisa do Flamengo. Foram três cariocas, uma Copa do Brasil e agora a Série A. Este ano ele teve grave lesão na coxa direita e correu até o risco de tera perna amputada.
O POVO.
Thiago Aguiar

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